O sol nasce na praia localizada ao lado do acampamento, mas uma boa meia hora antes desse momento passo necessariamente pelo pequeno estúdio para colocar roupas quentes, fazem apenas 8 graus. Eu vou de chinelos em caso de colocar os pés na água.

Caminho na praia observando os pescadores que estão ocupados, ao fundo os profissionais que puxam suas redes e em primeiro plano os pequenos pescadores, um dos quais caminha na praia com sua rede redonda que ele joga nas quebradas na esperança de fazer a captura do dia. Ele para ao meu lado explica-me que a praia é proibida à pesca industrial mas que agora a cada 50 metros há uma rede de cem metros de comprimento que sai da praia, não deixa muito para ele, um aposentado à procura de comida, nem para os outros pequenos pescadores.

O sol nasce e lentamente começa a aquecer a atmosfera, o gorro e a jaqueta permanecem, meus pés estão congelados. Aproveito o cenário antes de voltar ao estúdio para colocar um par de meias, me aquecer e preparar um bom café da manhã. Um pouco depois o João me explica que há uma competição de surf na praia vermelha e que seus filhos participam dela. A competição deveria acontecer em frente ao acampamento, mas a ausência de ondas forçou os organizadores a moverem a competição poucos quilômetros de estrada de terra após o morro e eu acho a praia do outro lado.

O céu é azul, o sol brilha mas o vento é forte e muito frio, na praia eu destôo com minha bicicleta de viagem entre os surfistas. As condições são difíceis, as ondas estão quebrando em todos os lugares, está longe de ser fácil pegar uma boa onda, mas nada a dizer pois os caras são bons e aqueles de paddle estão motivados com essas condições.

Depois de duas horas, retornei ao acampamento para comer uma refeição. João me conta sobre dois pescadores, Mimo e Calingo, onde eu posso comprar peixe diretamente, em paralelo paquero Carina nas redes sociais, tenho minha libido que está no pico. Proponho-lhe cozinhar um peixe, ela deixa-me entender mais ou menos que vá chegar mas não sei se é verdade ou não.

Dirijo-me a Mimo onde eu conheço Marilou sua esposa, a quem eu pergunto sobre a Tainha, explicando que estou ficando no acampamento do João. Não há Tainha, mas ela acaba me dando de boa graça dois belos peixes que ela puxa do seu congelador.

Finalmente Carina chega com seu lindo sorriso e um bom quilo de mexilhões que nem nos damos ao trabalho de lavar. Água, sal, um pouco de limão e vai para um vapor. Enquanto isso, preparo devagarzinho legumes com creme e tagliatelle, porque o mexilhão leva tempo para cozinhar.

Hora de beber uma cerveja, consumir a cereja acima do bolo antes do prato principal, vestir-se e voltar aos nossos mexilhões. Ela explica que tem quatro filhos e não pode ficar muito tempo, felizmente a comida está pronta, curtimos esses mexilhões frescos do dia.

A noite transcorreu calmamente, no dia seguinte depois de curtir o amanhecer e um bom café da manhã, vou de bicicleta em direção a Itajaí, localizada a vinte quilômetros daqui e passando por Navegantes, uma longa praia de alguns quilômetros onde há idosos jogando damas ou bocha. Vou até o farol número 7 na entrada do porto industrial e então cruzo pela balsa.

Em Itajaí, eu conheço Ana cujo nome do filho é Gregori, em Bico do Papagaio, uma formação rochosa em forma de bico de papagaio que surgiu durante o arrebentamento do penhasco durante a construção da estrada, vamos juntos até farol número 8 do outro lado do canal onde passam alguns navios de carga.

As ondas batem no dique enquanto conversamos, a Ana aproveita o domingo para pedalar e quebrar a rotina da semana. Finalmente ela me convida para almoçar em casa, onde eu conheço seu filho e um amigo que piram quando aprendem sobre a minha jornada. Deixo-os antes de escurecer para voltar ao meu canto que fica mais de uma hora de pedal após a travessia de balsa. Esta manhã João teve pena de mim com o frio que tem feito nestes dias e me convidou para dormir no estúdio e não na barraca. Noite entre quatro paredes, adormeço rapidamente na frente de um vídeo no youtube.

No dia seguinte exploro os arredores do camping a pé, praia grande, onde surfam os filhos de João e seus amigos, em seguida descubro que a praia de Piçarras é fantástica para o pôr do sol. Uma pequena visita a Che que fica surpresa ao me ver na área. Mais um dia no refúgio de Poa e já são são 10 meses de viagem, lindo pôr do sol para comemorar, amanhã eu tomo a estrada novamente.

Aproveitei esses últimos dias para encontrar acomodação via couchsurfing em Florianópolis, onde devo me apresentar depois de amanhã, em teoria, terei que pedalar muito para chegar em tempo.