Depois de Miracatu e alguns quilômetros no acostamento da rodovia, pego a saída 401 e a BR 222 em direção a Biguá e à cachoeira de Salto do Biguá para encontrar um lugar para acampar.

Apenas um quiosque está aberto à beira do rio, paro para conversar com um casal adorável, tomo um suco de maracujá fresco e faço uma comidinha de macarrão com legumes que acabei de comprar em Miracatu.

Após essa refeição o dono me oferece de acampar ao lado do seu quiosque, mas estou na dúvida, pois o lugar fica bem do lado da estrada e não é muito plano para acomodar a minha tenda. No final, será a rede sob a cobertura do quiosque muito mais rápida de configurar. Enquanto me estabeleço, bato papo com o caseiro e a sua esposa. eles vão embora e quando finalmente me sinto à vontade começa a brotar um som ultra forte de música brasileira do bar a cinquenta metros de onde estou. Logo depois o dono do bar aparece, é o Pelé, ele me convida para ficar ao lado de seu "bar da cachoeira" fora de vista, com uma mesa de bilhar para servir de cama. Isso me convém, ficarei mais quieto porque meu equipamento não estará à vista de todos que passam por ali.

Após minha instalação começa uma discussão com meu anfitrião e seu único cliente para o momento. O bar começa a encher quando eu decido cair nos braços de Morpheu. Um telhado e uma semi cobertura me protegerão da serração da mata.

Às 5 da manhã, o primeiro caminhão passa na rua e tudo começa a tremer, incluindo o bilhar.

Acordei cedo, ao nascer do sol e caminhei ao longo do rio em um ambiente nebuloso para tirar algumas fotos. Depois voltei para o bar para tomar o café da manhã com Pelé.

O céu se abriu e saí do meu abrigo para atacar a Serra do Mar, a primeira subida verdadeira desde que comecei a pedalar novamente. Do outro lado o nevoeiro ainda está lá, depois de cem metros tenho que parar para colocar um blusão e mangas. Do outro lado da estrada uma fonte e um pequeno quiosque do Osamar, um homem sorridente e muito simpático com quem, claro, paro para conversar. Ele quer algumas dicas para seu primeiro celular, novidade ainda um tanto complexa para ele, tem dificuldade em controlá-lo. Conversamos de coração aberto, ele acaba me dando duas dúzias de bananas nanicas para a viagem.

Ainda tenho cerca de cinquenta quilômetros até Iguapé em um eixo pouco frequentado, para atravessar as plantações de bananas, de palmeiras aninhadas no meio da mata atlântica.

Eu me aproximo silenciosamente quando de repente um cachorro aparece ao lado, me assusta enquanto me caça, eu acelero o meu pedalar para me livrar dele e alguns metros adiante minha roda desliza na beira da estrada. Primeira queda sem muita gravidade, duas pequenas abrasões no joelho direito e uma pequena no cotovelo.

Atrás de mim o cachorro parou, feliz, seu rabo abana de prazer.

No final, o bagageiro fica um pouco entortado, mas nada sério, vou arrumar quando encontrar uma oficina. Eu pego a estrada para Iguapé, onde faço algumas compras para o trecho antes de cruzar a ponte para a Ilha comprida.


Chegando lá, eu encontro com Joel em sua bicicleta, que se vira na minha direção, para e começa a conversa. Demoramos duas boas horas nos diferentes temas da espiritualidade e energias positivas. A noite está pronta a cair e eu ainda não sei onde dormir. Joel me apresenta seu tio que me aluga um pequeno quarto bem baratinho. Elson, o proprietário, me compara a uma pássaro migratório da região que foi encontrado no Canadá ... coincidência! 😀