Após uma boa noite de sono é hora de atravessar a ilha para pegar a balsa para Cananéia.

Ilha comprida não leva esse nome à toa, com 70km de extensão para pedalar na estrada ao longo da praia ou na praia mesmo. Para ganhar alguns quilômetros, eu rapidamente vou pela praia, ela está quase deserta, o sol brilha, a maré está baixa, a areia firme, felicidade rolando. Nada é permanente, claro, depois de alguns quilômetros eu me vejo bloqueado por um rio muito profundo para eu atravessar com minha magrela gorda, um ônibus passa a quarenta metros, a estrada está lá bem perto, mas vou ter que subir a duna e passar a vegetação. Subir de bicicleta a duna de poucos metros não é uma tarefa fácil, a areia está deslizando sob meus pés com minha bike pesadíssima. Eu pego alguns troncos na praia para fazer uma rampa e quando passar a duna, tenho ainda que encontrar um caminho na vegetação que se tornou um brejo por causa das fortes chuvas da semana passada. Pena que eu terei pés molhados... 

Então, de volta à estrada arenosa e muito menos firme por alguns quilômetros. Eu decido pedalar até a próxima entrada da praia para almoçar e me refrescar no oceano. Antes disto será necessário pedalar um trecho de estrada cascalhada, não muito agradável, e logo uma nova parte de estrada arenosa. Por volta das 12:15 estou de volta na praia, um quiosque fechado na lateral com banheiro, água doce, mesa e cadeira, o lugar perfeito para preparar uma pequena refeição e tomar banho no mar enquanto aqueço meu fogão a álcool.

De volta, eu coloco o macarrão para cozinhar, em seguida aparecem o David com Diego, seu sogro. começamos a conversar. Eles me oferecem uma cerveja, depois outra e outra de novo enquanto eu almoço. Finalmente, eles me convidaram para um churrasco em sua casa, uma encantadora casa de madeira do outro lado da ilha. Hesito um pouco porque se eu não correr a praia de 16km agora a maré estará alta e eu não poderei passar. Não tem problema, eu posso dormir lá e farei a estrada amanhã de manhã ... Fechado! Vamos!

Excelente tarde, bela companhia de gente super simpática, carne deliciosa, o que posso esperar mais?

Depois do churrasco eu volto ao norte da ilha com Diego, mas desta vez de carro, rodando na praia a 100km/h, delírio! Já numa velocidade mais baixa consigo ver o caminho do outro sentido. De volta para a casa, cochilo um pouco, em seguida, direção a aldeia para jogar futsal com os jovens da área. Eles curtem o gringo, que ainda consegue lidar com a bola. Depois do futebol, é pizza e algumas cervejas antes de ir para a cama.

Na manhã seguinte, encontro na padaria alguns jogadores do dia anterior que me convidam para voltar e jogar bola, então eu dou uma mão para David e Diego arrumarem a casa antes do retorno deles para Guarulhos. Continuo então a minha travessia da ilha para a balsa, cruzando um primeiro rio a pé, bagagem e bicicleta nas costas, o segundo rio eu terei que ir ao redor pela ponte porque é muito fundo. Empurro a bicicleta uma meia hora na areia macia, uma real provação.

No meio da estrada encontro outro jogador de futebol do dia anterior, para ele é mais fácil, ele está dirigindo o carro.

Nos cais eu encontro outro jogador, o mundo é pequeno especialmente numa ilha de 70km de comprimento por 4km de largura.

Uma porção de peixe depois eu tomo a balsa para chegar a Cananeia onde encontro um par de motociclistas com quem eu tinha conversado há algumas horas.

Quando chego na praça principal da cidade mais antiga do Brasil, dois viajantes de bicicleta descansam lá. 

Felipe e Pete(rson), conexão imediata com outras almas livres, eles vão na direção oposta, então trocamos informações, bom humor, experiências. Irmãos de estrada, um pouco no mesmo movimento, de querer aproveitar o que a vida tem para nos oferecer de melhor.

Uma hora depois Alexandre completa a galera, ele também viaja para aprender novas receitas vegans.

A tarde voa e já cai a noite, quando Leonardo, que mora aqui, e Luiz, o médico da cidade que cuida das pessoas, se unem a nós, e a noite toda é regada a cervejas e pizzas. A galera fica até 2 da manhã. A serração se instala e nossas bicicletas, ainda na praça, estão cobertas com um véu molhado. É hora de encontrar um lugar para dormir, porque amanhã eu tenho barco às 8h em direção à ilha do Cardoso.

Felipe e Pete já negociaram com a polícia, instalamos nossas barracas a algumas centenas de metros da praça principal, sob uma grande figueira. Montagem da tenda e capotamento por algumas horas, é hora de dormir.