Nesta manhã Jorge cai da cama e faz um barulho infernal enquanto prepara suas coisas, dada a proximidade de nossos quartos, minha noite termina mais cedo do que o esperado. Não são nem 6 horas, os motores dos barcos de pesca começam a ronronar na baía e eu ainda me arrasto um pouco abaixo do cobertor. Nosso barco na direção de Paranaguá está planejado apenas para as 8h.

Neli já está acordada e seu rádio começa a cuspir um som misto de distorção e música sertaneja.

Levanto-me e vou para o outro lado da casa para tomar uma boa xícara de café com meus dois companheiros e bater um papo enquanto aguardo a hora fatídica da partida.

Breve passagem pelo banheiro para lavar-me antes de fechar minhas coisas e carregar a bicicleta.

Neli decide nos acompanhar até o barco. Chegando à praia a maré está baixa, que mudança de cenário! O oceano retirou-se várias dezenas de metros, as crianças passam à nossa frente com as mochilas escolares, os trabalhadores de bicicleta vão para a pescaria de camarão, onde ontem mesmo havia montes de camarões. A areia é firme, alguns cães de rua, um pouco demais nesta ilha, também nos acompanham. Do outro lado do cais já está esperando o dono e o barco dele, ainda na areia. Ele oferece nos deixar na Ilha das Peças, à nossa frente, a alguns minutos de navegação, para nos buscar do outro lado da ilha depois que voltar de Paranaguá, e nos deixar na Ilha do Mel em seguida. Isso pelo mesmo preço da transferência para Paranaguá. Parece que a Ilha do Mel é linda e o preço para chegar até lá de repente caiu mais de 50%, o negócio fica bom, fechado!

Agora já tenho o hábito de descarregar rapidamente a bagagem da bicicleta, colocá-la no barco, pôr bicicleta no ombro, colocá-la no barco, embarcar no barco, curtir a paisagem durante a navegação até a costa e começar tudo de novo, no processo inverso.

Não são nem 8 horas e já estamos na Ilha das Peças. A areia é firme, ali trabalham poucos pescadores, aproveitando a maré baixa para inspecionar suas redes e pegar os pescados do dia.

Quando se aproximam as áreas de mangue, fica mais difícil pedalar porque as rodas tendem a afundar incansavelmente. É importante ficar atento para identificar áreas de areia firme e evitar a provação de empurrar a bicicleta hiper carregada.

Depois de uma hora de pedalada nos encontramos do outro lado da ilha, onde um idoso nos propõe cruzar para o próximo destino por um valor ainda mais barato.

Infelizmente, para ele, já concluímos um acordo com nosso primeiro capitão e neste tipo de lugar, onde a palavra ainda tem grande valor, nós a respeitamos. Então seria meia hora de conversa sobre a evolução da sociedade e da juventude até nos despedirmos calorosamente.

Um lanche depois, coxinhas caseiras, fritas na hora, o capitão aparece para nos atravessar para a "Ilha do Mel" e nos oferece dois pontos de chegada. Escolhemos o ponto mais remoto, que é também o menos visitado da ilha, porque os outros pontos de interesse serão muito mais acessíveis quando estivermos por lá.

Chegamos pelo extremo oeste da ilha, a "Ponta da Praia Branca", que não se chama assim à toa, mas rapidamente a paisagem se transforma, depois de passar pelas poucas casas da região, na área de mangue dos manguezais. É preciso ficar mais perto da praia que da beira do mar, entre a areia branca e macia e a parte mais lamacenta descoberta pela maré baixa, slalom entre a vegetação para não acabar empurrando nossas magrelas. Jorge sofre bem mais, pois não tem marchas.

Finalmente a areia firme retorna depois de alguns quilômetros e logo depois chegamos a Brasília, o centro da Ilha do Mel.

Quando chegamos ao cais um barco atraca e atrás de nós aparece Alexander, outro "ciclo-viajante" que eu já havia conhecido em Cananeia.

Nós estamos olhando para as diferentes opções de acomodação, que são bastante caras aqui, então finalmente acabamos na "Pousada Recanto Tropical". A dona é bastante atraente e sua nora também. Nós limpamos as bicicletas e então a excitação dos viajantes e a energia do grupo faz com que logo a cerveja suba à tona e as garrafas seguem, uma após a outra.

Um violão aparece para um vai e vem entre minhas mãos e as de Alexander. Nós tocamos alguns clássicos da música brasileira, depois algumas improvisações, principalmente sobre a charmosa faxineira do hotel vizinho.

A atmosfera é boa, videoconferência cocktail com o meu amigo Wilfried, que precisa de energia pura, bebemos através da câmera interposta. A noite aparece e logo é hora de churrasco com mais cervejas. Depois chegam as caipirinhas e a cachaça, hulalá, amanhã haverá uma tempestade debaixo do meu crânio. A ressaca vai ser pesadíssima!

Os outros desaparecem discretamente, chamo isso de saída à francesa, me aqueço numa rede onde acabo caindo no sono.

A boca pastosa e os pés doloridos por picadas de mosquito me acordam algumas horas depois. Vou para a cama, em uma cama de verdade, com um bom colchão, que não tenho há alguns dias.

Amanhã é outro dia, será hora de explorar esta ilha ...