As bicicletas estão carregadas, temos que viajar uns vinte quilômetros de barco. Quando chegamos na barra entre as duas ilhas, a maré já está subindo e as ondas começam a passar. Mário disse que é impossível passar neste lugar na maré alta, você deve ficar na área de mangue e ter muito cuidado para que as ondas não virem o barco. Como regra, os pescadores agora evitam a maré alta. Meu guidão fica meio fora do barco, provando a água salgada, eu o puxo para mim para limitar os efeitos da água salgada na mecânica. Uma hora e já estamos na praia do Superagui. Ninguém. A praia deserta é apropriadamente chamada assim, lá serão encontradas apenas algumas boias encalhadas, transportadas até ali pelo oceano e a beleza de diferentes espécies de pássaros. Os urubus compartilham os restos de um golfinho ou uma tartaruga, quanto às gaivotas, ficam na beira da água com seus filhotes, outras sobrevoam as ondas em grupo, esperando pegar um peixe pulando fora da água.

Ao pedalar pela praia, preste sempre atenção à maré.

Maré alta, inevitavelmente, nos empurra para a areia mais macia, onde é impossível pedalar e onde até mesmo empurrar a magrela é um teste de força. Além disso, passar alguns rios se torna impossível. Chegamos ao outro lado da ilha na comunidade, depois de 27km na praia, após duas horas e meia, quando a maré já subiu bem. Já era hora, nos últimos quilômetros tivemos que pedalar na beira da quebrada das ondas, que vinham lamber nossas rodas, para poder aproveitar os últimos metros de areia firme. Acabamos de chegar e nos encontramos com Neli, que nos oferece dois quartos em seu rancho humilde pela modesta quantia de 20 reais cada.

Almoçamos juntos curtindo o delicioso peixe do Filê, que há alguns minutos estava ainda pendurado no meu guidão. Neli é esposa de um pescador, ela prepara o peixe em fritura, aquece o arroz e feijão doados pelo Filê na ilha do Cardoso e oferece uma salada de tomate e cebola para acompanhar. Puro deleite!

Depois do almoço saímos para passear pela aldeia e na beira da praia. A maré está agora alta e chega ao pé das casas que margeiam a praia. Os moradores estão tentando desacelerar o avanço do oceano com pedras ou sacos de areia, mas provavelmente sem sucesso. Aparentemente, o oceano avançou cerca de dez metros desde alguns meses, algumas casas começam a rachar inteiramente, primeiros sinais antes da queda final.

Na aldeia encontramos Jorge, uma figura de 70 anos, 11 crianças, sempre com mulheres diferentes, e que diz estar ligado aos arcanjos. Segundo ele, minha alma está em sua vigésima terceira visita à terra, Neli 17 e Jorge 27.

Quando deixamos o nosso amigo iluminado, continuamos na praia para encontrar um barco e seguir amanhã a nossa peregrinação nas ilhas e estudar as diferentes opções. Algo feito logo depois, de volta à cabana de Neli, curtindo o pôr do sol. Um pequeno rango, o surgimento da lua cheia de cor laranja, conversa em torno da mesa no jardim, embalada por Neil Young e Bob Marley, antes de retornar à praia para admirá-la ao luar com a constelação de Centauro e o Cruzeiro do Sul acima da gente. Neli nos incentiva a ficar mais tempo, mas estou exausto, vou para a cama, amanhã precisamos acordar cedo para pegar o barco em direção a Paranaguá.