Acordo às 6 da manhã, a noite foi curta, me ativo devagarzinho e começo a dobrar minhas coisas sem fazer muito barulho para não atrapalhar Felipe e Peterson que dormem na barraca ao lado. Daqui a menos de duas horas a balsa sairá do cais de Cananeia em direção à Ilha do Cardoso.

Eu tenho que dobrar minha barraca e minhas coisas molhadas o mais rápido possível para não perder o bonde. São 7h50 da manhã quando as minhas coisas estão prontas, nem tenho tempo de cumprimentar meus companheiros cicloviajantes encontrados ontem, tenho que ir para o embarque nos próximos minutos. Na chegada, um homem me ajuda para por minha bicicleta no barco, assim evitar descarregar as bagagens. Então o barco levanta a tinta, já era hora. Deixando Cananeia à beira do rio ao longo do manguezal, o sol brilha e as luzes quentes e contrastantes do início da manhã aprimoram a paisagem. Aparentemente, um belo dia de sol está se preparando, mas apenas meia hora de navegação e já aparece a serração, a floresta transpira a umidade acumulada na semana passada durante chuvas fortes. Línguas de nevoeiro no rio, áreas de colinas ensolaradas alternando com outras nebulosas dão um lado místico à navegação. As aves ainda se abrigam nos galhos dos manguezais aproveitando o menor raio de sol, a vegetação, as nuvens e a neblina se refletem na água criando várias formas, como os lábios de Avalon por exemplo, para quem tem imaginação!

Encontro Jorge, que também viaja de bicicleta, o capitão nos autoriza a ficar na proa, um lugar privilegiado que nos dá uma visibilidade muito melhor da natureza exuberante que nos rodeia, fica muito legal pois agora o show é de 360 graus. Mágica e misteriosa ao mesmo tempo, a natureza é tão linda!

Após 2h40 de navegação no mangue, o barco atracou na ilha do Cardoso. Desembarcamos com nossas magrelas, então eu levo algumas informações para encontrar um lugar barato para nos hospedar. No final compartilho com Jorge um dormitório na Pousada Robalão, conseguimos um ótimo preço pelas próximas três noites. Ter um telhado me permitirá secar minhas coisas molhadas.

Esta ilha não é muito larga, de um lado o rio e o outro, nem dez minutos a pé, uma praia deserta de areia branca enfrenta o oceano em vão. Depois de um passeio na praia, voltamos para o lado do rio para almoçar, apenas um restaurante aberto, o garçom desavisado serve-nos um prato feito ultra caro. Uma vez só! Tchau !

De volta à pousada, conversamos com Theresa, a mãe da família, para encontrar uma opção de alimentação melhor, ela apresenta seu genro, Filé, pescador, que nos oferece um rango farto pela metade do preço. Negócio fechado, amanhã vamos comer na frente da casa dele, a comida caseira é sempre a melhor ...

Nós terminamos nosso dia no outro lado da praia nas pedras no fim da baía, antes de voltar para um pôr-do-sol no rio. Não há muito o que fazer hoje à noite e ainda não me recuperei da noite passada, preciso de descanso, capoto bem cedinho.

Os próximos dias provavelmente serão mais animados porque haverá a festa na aldeia.

Na manhã seguinte, acordo cedo para aproveitar os primeiros raios de sol na praia com o Jorge. Encontramos o Filé que vigia os peixes pulando da água. Quando há muitos no mesmo lugar, o lugar é indicado aos barcos de pesca para que joguem sua rede.

A ilha é uma reserva, só o povo dos pescadores, os caiçaras, podem morar lá, a fauna e a flora estão preservadas, pode-se até encontrar onça à noite que já entrou no galinheiro do nosso novo amigo, Filé, que também explica os diferentes tipos de malha e redes de pesca que podemos encontrar (simples para o rio ou triplas para o mar), os tipos de armadilhas feitas pelos pescadores. A malha tripla permite que o peixe batendo de um lado ou do outro da rede acaba entortando-se e fica preso. 

A malha simples não aguenta a força dos peixes do mar. 

Nos próximos três dias teremos muita conversa com Filé e sua esposa Carol, troca de conhecimento, sabedorias, experiências de vida, pura felicidade, um irmão, gente simples, aberta, calorosa, verdadeira. Obrigado a eles por estes momentos.

Foi planejado que eu cruzasse a ilha inteira de bicicleta e então seguisse atravessando a barra com um barco de pesca para a próxima ilha. Infelizmente, por causa da mudança climática, a ilha é agora duas ilhas, separadas há oito meses, uma outra barra já se abriu. O oceano avança a cada dia, corrói a praia cada vez mais um pouco, agora há mais de um quilômetro de abertura, entre as duas línguas de terra. Na maré alta, as ondas impedem a passagem, encalham no mangue que acaba secar e se aniquilam um pouco mais a cada dia. A praia é cavada pelo oceano, casas caem, colapsam, é chocante ver essa transformação tão rápida, daqui a pouco essa área será totalmente transformada.

Bingo, forró, domingo de futebol, aproveitamos as atividades na aldeia para encontrar um barco para na manhã de segunda-feira seguir nossa aventura de bicicleta em direção à ilha de Superagui.

No dia seguinte nos apresentamos no barco quando Mário e sua esposa estão prestes a sair. Embarcamos, finalmente, após verificação, não há gasolina suficiente para chegar ao destino. Aparentemente alguém pegou gasolina no dia anterior de seu tanque. Todo mundo vai para um lado para encontrar gasolina, mas fica bem complicado na ilha e no final não encontramos nada. 

Eu dou uns 20 reais para Mário ir às compras de gasolina em Ariri e durante este tempo Jorge e eu pedalamos mais no sul da ilha para que Mário não tenha que percorrer todo o caminho de volta. Nós nos apressamos para chegar à comunidade de Nova Enseada para chegar antes de Mário. Lá, os pescadores preparam Manjubas, pequenos peixes que eles cozinham no sal para depois secarem ao sol.

O pescador explica todo o processo de produção e de pesca, em seguida, Mário chega. Pés na barra, é hora de embarcar para a ilha de Superagui, cerca de 30 quilômetros de praia deserta nos espera lá.